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A Arte Fantástica de Henri Rousseau a Salvador Dali

A leitura e a releitura de obras de arte na sala de aula

Em muitas das minhas aulas de artes visuais a sistematização foi realizada com livros, gravuras, filmes e visitas a museus, a fim de que os alunos pudessem fruir as obras de artistas de vários estilos e épocas.

Dessa forma, pude aliar a base teórica com o fazer artístico, como propõe a arte educadora Ana Mare Barbosa. É o que chamamos de "Contextualização histórica", para que se conheça o mundo e as pessoas da época em que a obra de arte foi realizada. Os alunos, assim, através de diversas estratégias sentem-se motivados a analisarem os trabalhos, fazerem a leitura das obras, para em seguida ser feita a releitura delas, ou, seja, interagir com a obra colocando no seu trabalho os conceitos observados durante a leitura.

Pesquisa
A pesquisa deve fazer parte de todo processo de aprendizagem seja do aluno ou do professor, pois ambos devem conhecer, apreciar e fazer arte.


Também dessa maneira eu procedi na aula sobre o mundo fantástico dos artistas, apresentando aos alunos os diversos momentos da arte, e as influências de um artista sobre outro. Durante a apresentação, os alunos vão fazendo a leitura das obras, sinalizando o que observam: temas, formas, cores, texturas, composição, ritmo etc. 

 


As tendências pictóricas do século XX

Para os artistas do século XX a representação já não era um fim em si mesma, eles se interessavam era pela forma, pela composição, pela matéria ou pelo conteúdo psicológico. Por isso, faziam experiências para enriquecerem e inovarem a arte.  

A Arte Fantástica

Henri Rousseau (1844-1910), foi pintor primitivo, ou seja, com visão simples, que pintava formas estilizadas e líricas. Como não tinha formação artística, pensava serem elas reais. Apesar disso, muitos artistas apreciaram esse seu estilo. Suas obras já apresentavam imagens fantásticas.


Menino nas Rochas - 1895-1897 - 55x 46 cm - Henri Rousseau
 
"Henri Rousseau (...) apesar da grande reputação por ele desfrutada entre os pintores modernos (...) a ingenuidade do seu estilo não constitui, em qualquer sentido, uma qualidade "moderna", e o mesmo se pode dizer de todos os pintores ingênuos do nosso tempo."  Herbert Read 
 
Antoni Gaudi (1852-1928), arquiteto, antes dos surrealistas já usava em suas obras os arabescos, as formas orgânicas, as abstratas e as da fantasia.        

 Parque Güell, em Barcelona (1900-1914) - Antoni Gaudí

Parque Güell, em Barcelona (1900-1914) - Antoni Gaudí

Giorgio De Chirico (1888-1978), italiano, pintava expressando-se contra a violência da Primeira Guerra Mundial. Ele via a realidade metafisicamente, por isso pintava a vida em contextos estranhos e em perspectivas não comuns misturando a cena contemporânea com a da Antiguidade, elementos reais com irreais e sombras inquietantes. Criava, desse modo, um novo mundo, estranho, silencioso, melancólico e perturbador. Mais tarde sua arte volta-se para o estilo acadêmico.

O Enigma da Hora - 1911 - Giorgio De Chirico






A Incerteza do Poeta - 1913 - 106 x 94 cm - Giorgio De Chiricco


Carlo Carrà (1881-1966) também era artista italiano, que no início da Primeira Guerra Mundial procurava pintar influenciado pela pintura medieval de Giotto. Ele conheceu De Chirico e pintou cerca de vinte pinturas metafísicas. Anos depois pintou figuras baseadas no realismo de Masacio. Mais tarde, juntou-se aos futuristas.



 Carlo Carrà

A Arte Dadaísta foi um movimento artístico e literário internacional do espírito da época, 1916, em Zurique. Foi chamado de "antiarte". O dadá foi também uma reação europeia à Primeira Guerra Mundial que após tanto progresso passava a ser, segundo os artistas, uma civilização decadente. O nome "dadá", por causa da irracionalidade da guerra, foi retirado do dicionário ao acaso e significa "cavalinho de pau". Era contrário à arte tradicional, propondo conceitos irracionais, imaginários, absurdos e exagerados, com o objetivo de provocar, de chocar, de acabar com tudo e começar do zero. Desejavam, por isso, a espontaneidade, a invenção, a introdução do acaso nos trabalhos de arte.  Entre os artistas estavam o francês Marcel Duchamp, o cubano Francis Picabia, o alemão Max Ernst e o americano Man Ray. Em 1922, ele enfraqueceu, mas possibilitou mudanças estéticas radicais, influenciou diversos artistas e prenunciou o Surrealismo.

Pequena Fístula Lacrimal que Diz Tique-taque - Max Ernst
 
"Não nego as grandes realizações e o valor permanente da obra de pintores como Edward Hopper (...) eles certamente pertencem à história da arte em nosso tempo. Mas não à história do estilo de pintura que é especificamente "moderno" (...) a intenção, como disse Klee, não de refletir o visível, mas de fazer visível."  Herbert Read.

O Surrealismo foram movimentos filosóficos que surgiram em reação aos acontecimentos destrutivos da Primeira Guerra Mundial. Ele iniciou em 1924 com manifesto do poeta André Breton (1896-1966).

"Só a palavra liberdade me exalta."  André Breton

Breton uniu o irracionalismo do dadá ao subconsciente, conceito inspirado em Freud, pelo qual ele se interessou e levou outros artistas a conhecerem para usarem como inspiração para suas obras.

"Nas mãos de Breton, o Surrealismo foi sempre um esforço heróico para conter e definir as energias demoníacas libertadas do inconsciente pelo automatismo e outros processos 'paranóicos'. "   Herbert Read

Também o filósofo Bérgson enfatizou que o pensamento consciente e racional era relativamente secundário em relação às riquezas escondidas da alma. Então, os surrealistas queriam buscar este mundo secreto criando uma arte fantástica, que se desenvolveu, influenciou e ainda influencia muitos artistas. 

O Surrealismo se baseava em dois aspectos: 
1o. - no automatismo, para que a liberdade criadora fosse total. Nessa pintura, os artistas procuravam excluir o controle da razão e libertar os impulsos do subconsciente.

2o. - no mundo onírico, nos sonhos, para que se pudesse fazer uma exploração artística de ordem afetiva.

"O Surrealismo é destrutivo, mas destrói apenas o que considera serem grilhões que limitam nossa visão."  Salvador Dalí - 1929 

Os artistas surrealistas eram inspirados pelo caráter poético, enigmático e pelas justaposições de objetos. Para criarem usaram vários métodos, até hipnose. Eles valorizavam as pinturas das crianças, dos doentes mentais e dos amadores, porque surgia do impulso criativo, sem convenções e regras. Mais tarde, eles procuraram criar uma super-realidade, unindo o consciente e o subconsciente, o real e o sonho.

"belo como o encontro fortuito de uma máquina de costura e de um guarda-chuva numa mesa de dissecação."    poeta Lautréamont

Max Ernst (1891-1976), alemão, foi um artista que estudou filosofia. Apesar de não ter formação artística, ele inventou vários métodos, entre os quais a frottage __papel sobre uma superfície em relevo para se fazer um risco com grafite, cujo traço é usado para se criar uma imagem. Em 1922, em Paris, inspirado em De Chirico, ele, a partir do dadá, usou temas inspirados na sua infância, colocou objetos e cenários estranhos, mas num contexto mais moderno, criando, assim o Surrealismo.

A Cidade Inteira - 1934 - 50 x 61 cm - Marx Ernst

Juan Miró (1893-1983) foi um dos grandes surrealistas, devido a sua arte ser bem espontânea, sem imagens tradicionais, com algumas formas reconhecidas do mundo real e outras não. Ele se inspirou em Antoni Gaudí e nas obras catalãs. Usou também símbolos com sentido preciso.

Mulher e Pássaro ao Luar - 1949 - 81 x 66 cm - Juan Miró

René Magritte (1898-1967), pintor belga, tinha obra do surrealismo realista, ou "surrealismo mágico". De início, ele imitou a vanguarda, depois foi influenciado por De Chirico.


A Queda - 1953 - 80 x 100 cm - René Magritte
 
Salvador Dali (1904-1989), pintor espanhol, da Catalunha, foi influenciado pelos artistas renascentistas e dadaístas. Era extravagante e costumava se auto elogiar.

"Sou um monstro de inteligência."  Salvador Dalí

Pintou a realidade com realismo, criando, por isso, obras inquietantes, com imagens bizarras. Suas pinturas eram explícitas, porque era necessário que as visões oníricas fossem bem comunicadas ao expectador. 

"fotos de sonhos pintadas a mão."  Salvador Dalí

Nos primeiros trabalhos, ele usou as associações de imagens, pesadelos e símbolos. depois cenas alucinantes, como na sua obra abaixo. Ela é forte, é uma das grandes imagens arquetípicas do século XX. O tema é o tempo, a sua relatividade, elasticidade e destrutibilidade. O motivo principal são os relógios. Há uma inquietação psicológica em ralação a profundidade do espaço. No centro, Dalí pintou um rosto disforme, mole e elementos irreais misturados com imagens que conhecemos. Na pintura não existe a intenção de metáfora, mas sim uma relação com  a Teoria da Gravidade, de Albert Einstein.
 
"Toda a minha ambição no campo pictórico é materializar as imagens da irracionalidade concreta com a mais imperialista fúria da precisão."  Salvador Dali
  
 

A Persistência da Memória - 1931 - 24x33xm - no MOMA - N.Y
 
 "Embora esta tela seja, de acordo com as concepções surrealistas, a representação real de objetos irreais, não é de maneira nenhuma realista, quanto mais não seja pelo aspecto estático das coisas, e pela luz fria e estranha que as banha. Os objetos têm entre si relações associativas e enigmáticas, tal como em certos sonhos."

 Ele pintou também algumas cabeças fantásticas, como vemos abaixo. 
 
  O Sonho - Salvador Dalí
 
Auto Retrato com Bacon Frito - óleo s/ tela, de Salvador Dalí
 ]
 A Face da Guerra - de Salvador Dali
  

"Só a imaginação me diz o que pode ser, e isso é suficiente para levantar por momentos a terrível interdição __ suficiente também para me permitir abandonar-me a essa liberdade sem medo de enganar a mim próprio."  Marcel Raymond
 


A Releitura
 
Através de atividade com recorte, colagem, pintura e apropriação de imagens de figuras de revistas, de livros e o uso de diferentes materiais meus alunos criaram trabalhos usando materiais diversos, a partir das obras fantásticas e surrealistas com o objetivo de apreenderem a Arte através da Arte. 
 
  

  

Abaixo, alguns dos trabalhos. 
 


"Cabeça de Dalí" -tinta guache sobre papel - aluno Cristian

  

"Relógio de Dalí" - tinta guache sobre papel - de aluna
 
Colagem sobre papel - da aluna Rita
 
Colagem sobre papel - do aluno Josemar
 
Colagem sobre papel - do aluno Leandro - 7a. série
   
Bicho  - pintura, recorte e dobradura -  do aluno Márcio 
 
"só o imaginário constrói."  Wilner 
 
Com essas aulas os alunos puderam desenvolver a criatividade, a cognição, o afeto, os sentidos e a coordenação motora.
 
Frases de alguns alunos sobre o que aprenderam com as aulas de artes visuais.
 
"A arte da época antiga tinha regras, hoje a arte é mais livre, como a vida."  Wanessa, 6a.série
 
"Aprendi que a arte é uma forma muito interessante para nós conhecermos as ideias e a imaginação de nossos antepassados." Nathalie, 7a. série
 
"A história dos períodos da arte foi uma aula muito interessante para mim, eu aprendi um pouco de cultura. Quem não tem cultura não entende nada."  Leonardo, 8a. série
 
"Eu aprendi que a arte não é só a do passado, é também a do presente e a do futuro, e que a arte a cada dia vai evoluindo mais, vai se modificando."  Juliana, 6a. série
 


Construa vocè, também, um trabalho sem a preocupação em ser fiel à realidade, como fizeram esses artistas e alunos.

Fontes: BECKETT, Weddy . História da Pintura. Editora Ática
             READ, Herbert.. História da Pintura Moderna . Círculo do Livro              
             UPJOHN, Everard M., WINGERT, Paul S., MAHLER, Jane Gaston. História Mundial da Arte
             - Artes Primitivas e Arte Moderna - vol. 6.  Bertrand Editora
             Imagens do Google

Obs.: Os trabalhos dos alunos não são recentes.